terça-feira, junho 17, 2008

A Morte e a Minha Morte

eu não tinha coragem, ó morte
mas a senhorita a tem sobrando
senhorita sim
virgem, mal-amada, amarga e enegrecida
virgem por desgraça
mal-amada por opção
amarga por vocação
e enegrecida por consequência

não havia sofá ou uma cadeira para teu agrado
mas a senhorita cá está, em pé
em minha casa, meu lar, meu refúgio

exala cheiro de falta de estrada
falta de caminho
falta de ar
em ti vejo o último abraço
meus lamentos
e minhas últimas pretensões

desgraçada mãe da saudade
deixe que eu faça um último apelo
ninguém nunca goza de tempo
algumas últimas palavras
víbora banhada em desalento

amigos, divulguem o que criei;
amor, você foi a única;
mãe, queria ter aproveitado você
bem mais do que uma simples infância;
pai, queria ter entendido você;
irmãos, eu os amo de verdade.

ao resto, deixo a fiel descrição do rosto da morte:

(expirei)

Você e Eu Somos

você é meu jesus cristo
aquele que vai voltar
você é meu nirvana
aquilo que vai me dispersar
você é minha reencarnação
que me colocará num corpo melhor

eu te amo mais do que a compreensão
da sua indiferença azulada poderá entender
eu te amomais que a importância que você dá
pra atos de uma alma nula e nublada
chorona e apagada
cega a tropeçar

eu sou areia quente nesses pés de pequena
eu sou vento que lança fina areia
eu sou fumo marrom ou sou cinza fumaça
eu sou o que você queria ser na juventude
eu sou seu fracasso

você é minha vida
eu sou sua morte
você é cor
eu sou morte
você é brilhante
eu sou morte
caralho, tudo é vermelho

ao diabo com o amor, meu amor

quarta-feira, junho 04, 2008

Pré-morte

Envelhecendo, eu estou envelhecendo
E o meu peito não é mais aquele de outrora
É negro, frio e doente
Antes eu corria, sorria, brilhava
Meus vinte e poucos anos não são dignos de presunção
Quando eu tinha oito anos, pensava nos meus dezoito
Servindo o exército e comendo maça no sofá
Meus dezoito anos já passaram
E eu servia uma mulher e comia a maçã podre da vida
Eu não sei o que fazer
Eu me prendi demais às vaidades
Eu não sei escapar
Bem, eu sei o que fazer
Preciso escapar
Então o lamento é outro:
Não sei escapar

Sou um covarde
Um fracasso coberto de vaidades
Vaidades filhas de putas
Vaidade, tudo é vaidade

Eu nunca mais vou correr
Eu nunca viverei na época em que deveria ter vivido
Eu não vejo lugar para mim nesse mundo
Eu queria poupar o mundo de minha existência
Mas sou covarde demais para recepcionar a morte