quarta-feira, agosto 20, 2008

Menino-Homem

quando o homem percebe
"esse é o meu erro"
e quando percebe também
"essa é a solução"
e ainda mais quando percebe
"eu tenho preguiça"
quem poderá adentrar o abismo?
quem endireita a coluna do homem
estufa seu peito e o empurra?

todo começo de ano letivo
era uma nova escola
novos rostos, mesmas coisas
coisas de menino-homem
vigiar, conversar, tentar ser melhor
erguer a vista e se apresentar à sala
"meu nome é tal, estudava em tal escola"
ah! como o caminho até a carteira era longo
olhares veteranos de meninos-homens
meninas-mulheres
que dois dias depois mexiam no meu cabelo
"queria ter um cabelo desses"
meninas-mulheres de cabelo crespo
ensebados em inveja e curiosidade

o recreio começava e não tinha dinheiro para o lanche
pedir para um colega? nem pensar
passar vontade, esse era o estilo de vida

jogar bola, driblar e ser derrubado
levantar e aceitar a provocação
covardia, esse era o estilo de vida

voltar à aula com a testa suada, barriga vazia
mente sem ânimo, "garoto, você é muito burro"
passar em branco, esse era o estilo de vida

voltar para casa, coluna curvada, pisando em folhas secas
esperar o jantar, comer e depois brincar
ser moleque, esse era o estilo de vida

quem pode voltar e endireitar?
quem poderia alertar o menino-homem?
"não faça isso, não faça aquilo"
nem um anjo do Senhor poderia fazê-lo

eu poderia ser melhor, se tivesse a receita
mas a minhas mãos grandes e finas
não sabiam nem tocar um piano
ontem não existia glória
hoje muito menos
mas amanhã, o que espera?

vai ter com a formiga, ó preguiçoso
hoje eu entendo o provérbio
a advertência
mas quem pode erguer o menino-homem?
quem pode fazê-lo dançar
conforme a dança magnífica dos anjos?
o vai e vem de asas causa nauseas

ora, somos humanos
meninos ou homens
somos peste, a origem do arrependimento
o asco das rochas, a vertigem das árvores
somos apenas isso, humanos

super-homem? nietzsche, você estava louco
o que não me mata, me debilita
jamais me fortalece
posso emprestar de ti essa loucura?

e quem poderá endireitar
aquilo que foi criado para morrer?
passos e mais passos
quando o menino-homem olha para trás
diabos, não há pegadas!
apenas aves de rapina maliciosas
inventando desdém

idiotas, pensam que me enganam?

você lembra?
passar em branco, esse era o estilo de vida
ainda é