sexta-feira, julho 07, 2006

A cidade que dorme

Estou eu aqui de madrugada, navegando pela internet. O corpo pede nicotina. Vou ao corredor do meu andar, abro a janela, vislumbro a cidade.

Acendo um cigarro.

Ah! O sagrado cigarro da madrugada. Ninguém inventou nada melhor até agora. Daqui do 22º andar a vista nãofica devendo em nada, ainda mais quando não existem prédios num raio de 200 metros. Logo após esses 200 metros, avisto a avenida Paulista e suas imponentes construções. O prédios estão encobertos por um ralo nevoeiro, porém o céu está limpo, e a Lua olha com malícia para seu namorado Terra.

Ouço alguns carros se aventurando pelas avenidas, em alta velocidade, não se preocupando com cruzamentos. Puta merda, isso me faz lembrar minha primeira batida.

Os periquitos de casa estão mais agitados que o comum, oras, eles têm uns três filhotes dentro da caixinha, e a puta da periquita-mãe não pára de pedir comida pro periquito-pai, que já deve estar de saco cheio da vida. Um dia desses, abri a caixinha deles e ví os periquitinhos-filhos. Pareciam uns franguinhos assados se retorcendo, vermelhos, cegos e com suas peninhas por nascer. Pelos deuses, o milagre da vida está acontecendo em casa!

A cidade adormecida, mostra sua fragilidade diante da escuridão de suas ruas e becos. Enquanto isso, eu fumo meu Lucky Strike e penso em como minha vida podia ser melhor, e logo me consolo pensando em como ela poderia ser pior. Por isso que pensar é besteira. Quanto mais você pensa, menos você se ajuda. Como dizia o mestre Bukowski, as pessoas que pensam menos, tendem à viver mais. Concordo.

Amanhã tenho entrevista de emprego. Minha cachorra Meg, se aproxima de mim na escuridão do corredor, cheira meu tornozelo e se deita ao meu lado. Essa filhinha duma puta está mestruada e com certeza sujou o chão do corredor. Que se foda, pagamos condomínio pra que esse sangue seja lavado.

Acho que hoje vou dormir no sofá da sala. A tv me faz dormir, vou pegar um edredon, meu travesseiro e ficar por ali mesmo.

A noite na cidade revela o que o dia escondeu, meus chapas. E uma névoa rala se instala em meio as prédios.