sexta-feira, março 16, 2007

Eu não sou normal

É incrível, mas diversas sensações que outros humanos têm, eu não tenho. Não passam nem perto de mim. Às vezes me considero frio demais, calculista demais ou apenas largado demais. às vezes é preguiça de se revoltar, preguiça de levantar a bunda da cadeira e ir ao médico ver que dores são essas que surgiram do nada.

A inveja, por exemplo, não me faz nem cócegas de tão obsoleta que ela é. Sempre tem um cara com inveja e eu, sinceramente, não entendo o por quê de alguém me invejar. Mas, tendo motivos ou não, a inveja não me incomoda. O ser humano precisa de alguém o invejando. A auto-estima precisa da inveja dos outros, a inveja é o bem do século. Olho gordo? Só se for em desenho japonês, porque eu realmente não consigo associar a perda do meu emprego, por exemplo, ao olho gordo de um filho da puta que me inveja. Man, se você perdeu o emprego, é porque você é um puta de um incopetente, um cabaço incapaz de exercer as funções desse emprego. Aí vem alguém e diz: 'vamo tomar banho de aguá de não-sei-o-que, se benzer com folha disso-ou-daquilo'. E quando você se vê, tá pelado no chão com uma mãe-de-santo te jogando sal grosso. Porra, mal-olhado, cobiça, inveja, olho gordo... são nada mais, nada menos que sentimentos normais e naturais do ser humano. Deixa de ser idiota.

Outra coisa que não faz a mínima diferença pra mim, é o tempo que está passando rápido demais. Eu quero mais é que passe rápido demais, afinal, se demora é porque é uma bosta. Já ouviu aquela frase 'o que é bom dura pouco'? Então, é nessa linha mesmo. Se sua vida é tão lenta quanto uma tartaruga batendo punheta (deve ser lenta mesmo), então sua vida é uma bosta, uma mistura de sem-diversão com porra-alguma. Mas se seus dias estão rápidos como um guepardo no cio (isso deve ser rápido), então tá tudo um sucesso, tudo andando como diz o plano. Quando eu vejo meus amigos, os mais antigos, todos barbados, bebendo cerveja, fumando, com suas namoradas, esposas, e até filhos, não me preocupo. É tudo natural, é tudo programado. Um jogo sujo dos deuses, que vêem o nascimento do homem e vêem aos poucos a morte do homem, chegando lentamente (sim, como uma tartaruga na sua primeira punheta do dia). Tudo está escrito, minhas vidas e nem pense em fugir. Quem tenta fugir desse lento processo, acaba estirado no chão após se jogar domilésimo andar de um prédio, ou então, acaba pendurado, como carne no açougue, após se enforcar e ficar agonizando (burro) até sentir a mão da morte enfiando o dedinho no cuzinho.

Existem muitos outros sentimentos que não cheiram, não fedem. Acho que sou frio. Posso ser realista. Mas tô pouco me fodendo. Eu sou vivo, até quando, não sei.