quarta-feira, julho 16, 2014

O Sentido das Engrenagens de um Mingau Frio

Será que a vida não passa de um acidente? Afinal, qual é o sentido de ser bom? Qual é o sentido em fazer o bem ao próximo? Será que existe algum sentido em ser mau? Existe sentido em algo? Ou estamos apenas flutuando, girando ao redor de uma estrela entre tantas trilhões que existem por aí?

Eu não sei qual é o sentido das coisas. Você encontra pessoas que mudam sua vida e elas vão embora. Você ouve Canção da América e começar a sentir o coração como se fosse uma uva passa. Enrugado, mínimo e escuro. E que canção. Você para pra pensar que em muitos casos, o tempo passou e as relações, muitas delas, esfriaram assim como é natural um prato de mingau esfriar. No começo comemos pela beirada, na ansiedade da fome, do desejo. E assim é com as amizades. No inícios forçamos tudo, raspamos de forma singela a beirada endurecida daquele simples prato. E assim é com a amizade. É coisa simples, como um prato de mingau de maizena. Quando menos esperamos, o mingau já pode ser devorado pois está morno. E o que sobra? Aqueles freios gelados, resquícios das colheradas que desferiam ruidosos riscos ao prato. E assim é com a amizade. Depois de tudo, você despeja o prato na pia e vai pra sala. Vai ouvir a Canção da América. Que canção. Você acabou de comer um mingau e nem percebeu que de repente comeu o sentido das coisas. Ou a explicação para alguma coisa. Ou um simples paralelo. Rostos passam por sua mente, movidos por uma soturna engrenagem. Quantos amigos não se foram por aí, caminhando por trajetos que nunca imaginei? Quantos amigos eu não imaginei como amigos para toda a vida. E hoje não estão aqui. Não estão nem sequer ali.

"Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar".

Aí você se questiona, "mas por que diabos precisamos perder pessoas?", "por que não podemos amar a todos?", "por que a vida é assim, tão transitória?", "por que tudo muda?", "por que queremos que tudo fique do mesmo jeito?". Você se pergunta "por que existe sempre o outro lado da moeda?", "por que apenas não somos pra sempre?", "ou apenas mudamos toda hora?", "por que a estagnação opõe a mudança?" Aí você desliga a música e percebe que teria que questionar o porquê da vida se opor à morte. Ou seria que a morte se opõe à vida?

Não, você não quer mais pensar na vida. Nem eu. E nem queremos pensar no mingau das amizades. Nem na engrenagem que faz tudo girar ou na colher que pode travar tudo que gira. Se tudo travar, morreremos? Ou apenas viveremos sem entender mais nada? Peraê! A engrenagem parou? Qual era o sentido da engrenagem mesmo?

Nada faz sentido por aqui, né? Mas você sabe se algo realmente tem sentido?