Tenho 22 anos de vida e pouco sei sobre a vida. Passei por poucas e boas nessa vida, processos, investigação policial, viagens contra meu gosto, ameaças de morte, desafios no quais não me saí bem, porém não sei muito ainda. Cara, você pode passar por tudo nessa vida, e você continua um mero aprendiz. Cansei de ver gente de 40, 50, 60, 70, 80 anos de idade me dizendo que sabiam tudo, que eu precisava viver mais pra tirar conclusões. Concordo, mas se você tiver 100 anos, você continua sem saber muita coisa sobre a vida. Em parte porque você fica velho gagá, e em parte porque você não viveu todas as experiências prováveis da vida.
O que nos aguarda, irmãos dos 20 e poucos anos? Nossa idade é crucial para nossa formação, nessa idade começamos à desenvolver nossos moldes. Moldes do caráter. A educação na infância é fundamental, porém não acredito que nosso caráter esteja completamente moldado aos 18 anos, como muita gente acredita. O caráter precisa de experiência, o mínimo de experiência pra você determinar suas crenças, seus gostos e o mais importante, sua postura diante da vida. Some experiências, com educação e você terá o seu caráter formado.
E hoje em dia, estamos cercados por um bando de idiotas que resumem experiências em chupar e foder bocetas pelas noites da vida. Aí entra a questão da aparência. A destruidora aparência. Neguinha na balada puxando a barriga pra não exibir a barriguinha saliente. Puta que pariu, gente que nem gosta de rock, nas baladas de rock, vestidas como roqueiras, só pra se sentir incluída na roda social. Pelos deuses, só existe uma roda social? Tá cheio de homem que é viadinho, mas se faz de macho pra se incluir numa roda de machões. No escuro da noite, ele enfia um vibrador no cu e fantasia com um monte de homens. Sai do armário, caralho! Tem um monte de bichinhas nesse mundo, por que você não entra na roda deles (nos dois sentidos)? E o mais engraçado são esses "emos". Pra eles, tá na moda homem andar de mãos dadas com outro homem. Pra menininhas "emas", tá na moda ser sapatão! Tudo pra se incluir no círculo social. E depois reclamam de perseguição. O foda não é ser viadinho ou sapatão, ou bissexual, o foda é ser isso simplesmente por aparência. Ainda bem que ser "emo" é participar de uma febre e como toda febre, com o tempo passa.
Estou incluído num círculo social cheio de grandes amigos e amigas. Estou no lugar certo, no lugar que me ajustei. O legal da vida é estar nesse círculo certo e ao mesmo tempo, não estar. É não se limitar à velhas amizades e conhecer gente nova. Viver intensidades da vida e lembrar delas com alegria e saudade.
Porra, os velhos amigos já não são como antes. Tudo muda nessa vida fodida... todos ao seu redor mudam, seja por emprego, por mulher... Confesso que não tenho a mesma loucura de antes, afinal, TODOS mudam, e eu não fujo à regra. Mas mudar essência? Nem fodendo, amigo. Mude os ambientes, mas não deixe de ser o que você é. A pior destruição do homem é ele se moldar com moldes estranhos, moldes dos outros, só pra se encaixar num quebra-cabeças que ele não entende a figura que esse mesmo quebra-cabeça forma no final. Bando de cabaços sem personalidade. Garotinhas: seus peitinhos levemente empinados e gostosos de chupar vão cair... essa bundinha durinha, envolvida por uma calcinha de algodão, que é ideal pra meter de quatro, sentindo a carne durinha, também vai cair. Essa sua bocetinha molhadinha e tesuda vai um dia secar e ficar frígida. Essa boquinha sensual que você usa pra abocanhar uma rola ou pra beijar um cara desconhecido e estiloso, vai enrugar e vai parecer com a sua boceta... sim, na sua velhice, se algum cara te comer, vai meter na sua boca, achando que está metendo na boceta... hahahaha... o tempo passa, minha vida. O tempo é cruel, não poupa você, não respeita suas vaidades e nem olha se sua cara tá parecendo um chão de galinheiro, cheio de pés-de-galinha. Garotinhos: essa sua pica grande e cheia de bocetas pra enfiar, um dia vai ficar tão murcha que se você se olhar na luz e contemplar sua sombra, vai pensar se tratar de um elefante triste. Seu corpinho bombado, vai murchar e você vai parecer um galo velho, que nem serve pra cozinhar. Sua cabeça, coberta com esse cabelo sedoso, brilhante, daqui algum tempo vai parecer uma bola de sinuca e aí você vai ver que a frase "é dos carecas que elas gostam mais" é pura mentira. Resumindo: o tempo não perdoa, bando de cuzões.
O quê nos espera? Uma longa vida eu não sei, mas enquanto ela durar, o segredo é manter as amizade, os bons e velhos amigos. Gosto de citar e Bukowski, afinal o cara é O mestre. Um dia desses, ele disse que pra saber quem são seus amigos de verdade, você tem que arrumar uma sentença de prisão. Aqueles que te visitarem, são seus amigos. Claro que não chegaremos ao extremo, mas pelos deuses, você já é adulto pra distinguir seus verdadeiros amigos. Cara, tudo passa, mas boas amizades são pra sempre, não são como nossos corpos, que à medida que envelhecem, começam a parecer uns merdas de cachorro numa calçada... Boas amizades são como um bom vinho, italiano de preferência. O tempo passa, o tempo voa, mas bons vinhos e boas amizades continuarão numa boa.
quarta-feira, julho 12, 2006
sexta-feira, julho 07, 2006
A cidade que dorme
Estou eu aqui de madrugada, navegando pela internet. O corpo pede nicotina. Vou ao corredor do meu andar, abro a janela, vislumbro a cidade.
Acendo um cigarro.
Ah! O sagrado cigarro da madrugada. Ninguém inventou nada melhor até agora. Daqui do 22º andar a vista nãofica devendo em nada, ainda mais quando não existem prédios num raio de 200 metros. Logo após esses 200 metros, avisto a avenida Paulista e suas imponentes construções. O prédios estão encobertos por um ralo nevoeiro, porém o céu está limpo, e a Lua olha com malícia para seu namorado Terra.
Ouço alguns carros se aventurando pelas avenidas, em alta velocidade, não se preocupando com cruzamentos. Puta merda, isso me faz lembrar minha primeira batida.
Os periquitos de casa estão mais agitados que o comum, oras, eles têm uns três filhotes dentro da caixinha, e a puta da periquita-mãe não pára de pedir comida pro periquito-pai, que já deve estar de saco cheio da vida. Um dia desses, abri a caixinha deles e ví os periquitinhos-filhos. Pareciam uns franguinhos assados se retorcendo, vermelhos, cegos e com suas peninhas por nascer. Pelos deuses, o milagre da vida está acontecendo em casa!
A cidade adormecida, mostra sua fragilidade diante da escuridão de suas ruas e becos. Enquanto isso, eu fumo meu Lucky Strike e penso em como minha vida podia ser melhor, e logo me consolo pensando em como ela poderia ser pior. Por isso que pensar é besteira. Quanto mais você pensa, menos você se ajuda. Como dizia o mestre Bukowski, as pessoas que pensam menos, tendem à viver mais. Concordo.
Amanhã tenho entrevista de emprego. Minha cachorra Meg, se aproxima de mim na escuridão do corredor, cheira meu tornozelo e se deita ao meu lado. Essa filhinha duma puta está mestruada e com certeza sujou o chão do corredor. Que se foda, pagamos condomínio pra que esse sangue seja lavado.
Acho que hoje vou dormir no sofá da sala. A tv me faz dormir, vou pegar um edredon, meu travesseiro e ficar por ali mesmo.
A noite na cidade revela o que o dia escondeu, meus chapas. E uma névoa rala se instala em meio as prédios.
Acendo um cigarro.
Ah! O sagrado cigarro da madrugada. Ninguém inventou nada melhor até agora. Daqui do 22º andar a vista nãofica devendo em nada, ainda mais quando não existem prédios num raio de 200 metros. Logo após esses 200 metros, avisto a avenida Paulista e suas imponentes construções. O prédios estão encobertos por um ralo nevoeiro, porém o céu está limpo, e a Lua olha com malícia para seu namorado Terra.
Ouço alguns carros se aventurando pelas avenidas, em alta velocidade, não se preocupando com cruzamentos. Puta merda, isso me faz lembrar minha primeira batida.
Os periquitos de casa estão mais agitados que o comum, oras, eles têm uns três filhotes dentro da caixinha, e a puta da periquita-mãe não pára de pedir comida pro periquito-pai, que já deve estar de saco cheio da vida. Um dia desses, abri a caixinha deles e ví os periquitinhos-filhos. Pareciam uns franguinhos assados se retorcendo, vermelhos, cegos e com suas peninhas por nascer. Pelos deuses, o milagre da vida está acontecendo em casa!
A cidade adormecida, mostra sua fragilidade diante da escuridão de suas ruas e becos. Enquanto isso, eu fumo meu Lucky Strike e penso em como minha vida podia ser melhor, e logo me consolo pensando em como ela poderia ser pior. Por isso que pensar é besteira. Quanto mais você pensa, menos você se ajuda. Como dizia o mestre Bukowski, as pessoas que pensam menos, tendem à viver mais. Concordo.
Amanhã tenho entrevista de emprego. Minha cachorra Meg, se aproxima de mim na escuridão do corredor, cheira meu tornozelo e se deita ao meu lado. Essa filhinha duma puta está mestruada e com certeza sujou o chão do corredor. Que se foda, pagamos condomínio pra que esse sangue seja lavado.
Acho que hoje vou dormir no sofá da sala. A tv me faz dormir, vou pegar um edredon, meu travesseiro e ficar por ali mesmo.
A noite na cidade revela o que o dia escondeu, meus chapas. E uma névoa rala se instala em meio as prédios.
quarta-feira, julho 05, 2006
Cabaço é assim mesmo
Era 2002, lá pelo mês de março, eu tinha 17 anos e nada sabia sobre as ruas. Eu estava namorando uma garota de 16 anos desde 1999 e minha vida, naquele momento, se resumia à ela. Nunca havia tomado um porre sequer, nem me metido em briga nenhuma, nem palavrões eu falava muito. Eu era o verdadeiro cabaço. Minhas amizades estavam reduziadas ao pó, e a possibilidade de criar novas amizades eram quase nulas, afinal, durante a semana, tinha que acordar às 5 da manhã e trabalhar até às 17:00hs, na periferia da zona Oeste de Sampa, por uns míseros 450 reais. Depois do trabalho, me restava chegar atrasado na escola (devido ao trânsito) e voltar para casa lá pelas 23:30hs. Nos fins de semana, puta que pariu, era só ela e a família dela. Era óbvio que uma hora ou outra, algum sentimento de liberdade iria tentar aflorar, ou explodir dentro de mim.
Aflorou.
Era um dia da semana, sei lá qual era, mas as aulas estavam um saco, professores de saco cheio, afinal, haviam lecionado um monte de moleques na manhã, na tarde e ainda tinham que lecionar à um bando de trabalhadores e repetentes na noite. Ninguém era culpado nisso, confesso. Mas começamos a "cabular" aulas com frequência, ficávamos pelo pátio da escola, conversando sobre trabalho, mulheres e coisas da vida. Alguém se levantou da roda (estavamos sentados no chão) e propôs:
- Caralho, por que a gente não sai pra beber?
- É uma boa... - alguém respondeu
- E grana? O que a gente vai beber?
- Ah, lá no bar a gente vê, é só pegar uns drinks e zoar um pouco.
Nos levantamos e partimos em direção ao portão da escola. Saímos, e caminhamos da escola por uns metros até chegarmos na rua Afonso Celso. Sentamos no degrau de uma escada de um prédio antigo e vislumbrávamos o movimento dos carros. Patricinhas e playboyzinhos em seus carrinhos de 20 e tantos mil reais corriam pra lá e pra cá e nós, trabalhadores e estudantes nas horas vagas estávamos ali, contando moedas. Ao contabilizarmos tudo que tínhamos, Almir, um estudante que era pedreiro, saí perambulando e atravessando a rua em direção à um barzinho, um boteco. Chegou com um bombeirinho... groselha com conhaque. Começamos à beber, mas como eu era um cabaço, comecei à ficar tonto. Já me soltei, e estava tão solto que meus braços começaram à voar em direção dos ombros e cinturas das garotas. Tatiana, uma garota ruiva, troncuda e bunduda era apaixonada por mim (e foi apaixonada até a última vez que nos vimos, em 2003). Ela começava a me abraçar e eu a abraçava também. Puta merda, haviam alguns momentos de rápida sobriedade quando eu me afastava dela. Mas voltava a tontura, a alegria e lá estava eu, abraçado com as garotas. Olhei para o relógio e já era meia-noite. Minha "cabacice" me mandou despedir todos ali e voltar para casa... seriam bons e longos três quilômetros de tontura e baboseiras saindo da boca. O Miguel, meu melhor amigo na época se propôs à ir comigo, afinal, sua casa ficava antes da minha, um quarteirão antes. Começamos à andar, falar de mulheres, mulheres e mulheres.
- Minha é prima é muito gostosa... é mais nova, mas puta que pariu, tem uns peitinhos - disse Miguel
- Que bom, e onde ela mora? - perguntei
- No Paraná.
- Puta que la merda, Miguel, a mina mora no Paraná? Fala de algo mais próximo!
- Ah, sabe a fulana (esqueci o nome dela, era da nossa classe)?
- Sei.
- Comi ela, cara. Ela ficou de calcinha, de quatro, e eu só pus a calcinha de lado e mandei bala.
- Caramba, e ela?
- Gostou, mas foi rápido, sei lá...
- Sei.
A conversa continuava:
- Mano, um dia estava comendo uma ficante. - começou Miguel
- E aí? - perguntei
- Estava no "bem bom", metendo com força, ela gritando alucinada e de repente ela grita "vai meu touro, mete com força". - Miguel parecia um italiano ao me contar essa história, gesticulava, falava alto
- Hahaha e daí?
- Mano, a mina me chamou de touro e quis que ficasse tudo tranquilo? O caralho! Tirei meu pau da buceta dela e mandei: "Como assim, touro? Você tá me chifrando, caralho?!"
- Hahahaha, mano, você não fez isso.
- Fiz, porra. Nem fodendo que a mina vai me chamar de touro!
- Vai se foder, a mina tá lá, quase gozando... às vezes ela fala essas coisas, tipo, meu macho, meu tigrão...
- Sei lá, cara, a verdade é que mulher nenhuma me chama de touro!
- Que se foda.
A conversa continuou nessa linha. O Miguel sempre contando suas histórias e eu, cabaço, sem nada de interessante pra contar, afinal, minha primeira namorada era a mesma daquela hora, nunca havia comido outra boceta. Eu só ouvia, ria, concordava e discordava.
Estávamos chegando na metade do caminho, já era bem tarde, e estávamos em frente à Igreja Margarida Maria, ao lado do cemitério da Vila Mariana. No instante que caminhávamos, perto de um estacionamento, um cara sombrio nos seus 21 anos chegou perto de nós:
- Aê, alguém tem fogo aê? - perguntou o elemento
- Fogo não, mas se quiser álcool, eu tô cuspindo álcool - respondi "cabaçamente" achando que tinha bebido pra caralho
- Vocês estão indo pra onde? - perguntou o elemento
- Pra casa - repsondeu Miguel
- Onde vocês moram?
- Aqui na região - me adiantei pra responder
- Só... - balbuciou o elemento
Puta merda, o cara tava louco de maconha, devia ter fumado muito, os olhos vermelhos, magro, de boné e voz lenta, torturante. Fomos caminhando por mais alguns metros e o Miguel me olhava de lado, me passando a mensagem "esse cara é nóia, é suspeito". Eu captava a mensagem, mas o filho da puta conversava, conversava, falava que nos conhecia, que estudava num colégio de supletivo noturno lá na Ana Rosa. Quando um ônibus passava, ele falava "olha quanta buceta nesse busão". Ele falava as coisas, nós respondíamos e ele falava: "do que vocês estão falando". Puta que pariu, o cara tava loucão. Chegamos na Coronel Diogo, uma rua que cruza a Lins de Vasconcelos. O Miguel encontrou um amigo na padaria de esquina e conseguiu uma carona pra casa.
- Felipe, vou ficando por aqui, ele vai me dar uma carona - disse Miguel
- Beleza, até mais então, mano - repondi me despedindo
Mas o filho da puta do elemento sombrio e noiado não me largava. Havia mais um quarteirão pra andar e o cara continuou me perseguindo.
- Aê mano, vamo colar aqui mesmo, ficar zoando um pouco... - propôs o elemento
- Não cara, tenho que trabalhar amanhã... acordar 5 da manhã é chato. A gente se fala depois, você não cola o tempo todo lá na escola? - tentei despedí-lo bem no momento em que três caras, amigos dele chegaram.
- Então, esse é fulano, esse é beltrano e esse é ciclano - o elemento apresentou mais três elementos tão sombrios quanto ele
- Opa, e aí? Beleza? - cumprimentei-os
Os caras me cumprimentaram e ficaram parados enquanto eu andava, tentando atravessar a avenida. Tentei pela última vez me livrar do cara:
- A gente se vê amanhã à noite, la na escola.
- Que escola, mano? - me perguntou, denunciando sua confusão mental
- A minha, mano, falei dela pra você o tempo todo, como você me pergunta "qual escola"? - me irritei
- Mano, você é estranho - o louco me disse
E quando parei pra raciocinar sobre a última frase dele, ele me virou uma "cadernada" na cara. Eu que estava meio tonto pelas bebidas, fiquei mais ainda. Lembro de ter erguido minha vista e ver os outros três amigos dele correndo em minha direção. Puta que la merda, eu tava fodido. Era melhor correr pra casa. Minhas pernas bambas me assustavam, corri como um louco, peguei outro caminho mais longo, para se caso eles me perseguissem mesmo, não saberia o caminho do meu prédio. Lembro de ter olhado pra trás e ter visto os quatro parados e o elemento principal, loucão, gritando alguma coisa. Cheguei com respiração ofegante no meu prédio, parei nas escadas e lembro ter feito alguma oração. No desespero, meu filho, não existem ateus. Me recompus, entrei em casa e todos perguntavam preocupados, onde eu estava. A minha namorada havia ligado várias vezes. Liguei pra ela, dei uma desculpa idiota, troquei de roupa e fui dormir às 2:30hs, pra acordar às 5:00hs.
Que cabaço.
Aflorou.
Era um dia da semana, sei lá qual era, mas as aulas estavam um saco, professores de saco cheio, afinal, haviam lecionado um monte de moleques na manhã, na tarde e ainda tinham que lecionar à um bando de trabalhadores e repetentes na noite. Ninguém era culpado nisso, confesso. Mas começamos a "cabular" aulas com frequência, ficávamos pelo pátio da escola, conversando sobre trabalho, mulheres e coisas da vida. Alguém se levantou da roda (estavamos sentados no chão) e propôs:
- Caralho, por que a gente não sai pra beber?
- É uma boa... - alguém respondeu
- E grana? O que a gente vai beber?
- Ah, lá no bar a gente vê, é só pegar uns drinks e zoar um pouco.
Nos levantamos e partimos em direção ao portão da escola. Saímos, e caminhamos da escola por uns metros até chegarmos na rua Afonso Celso. Sentamos no degrau de uma escada de um prédio antigo e vislumbrávamos o movimento dos carros. Patricinhas e playboyzinhos em seus carrinhos de 20 e tantos mil reais corriam pra lá e pra cá e nós, trabalhadores e estudantes nas horas vagas estávamos ali, contando moedas. Ao contabilizarmos tudo que tínhamos, Almir, um estudante que era pedreiro, saí perambulando e atravessando a rua em direção à um barzinho, um boteco. Chegou com um bombeirinho... groselha com conhaque. Começamos à beber, mas como eu era um cabaço, comecei à ficar tonto. Já me soltei, e estava tão solto que meus braços começaram à voar em direção dos ombros e cinturas das garotas. Tatiana, uma garota ruiva, troncuda e bunduda era apaixonada por mim (e foi apaixonada até a última vez que nos vimos, em 2003). Ela começava a me abraçar e eu a abraçava também. Puta merda, haviam alguns momentos de rápida sobriedade quando eu me afastava dela. Mas voltava a tontura, a alegria e lá estava eu, abraçado com as garotas. Olhei para o relógio e já era meia-noite. Minha "cabacice" me mandou despedir todos ali e voltar para casa... seriam bons e longos três quilômetros de tontura e baboseiras saindo da boca. O Miguel, meu melhor amigo na época se propôs à ir comigo, afinal, sua casa ficava antes da minha, um quarteirão antes. Começamos à andar, falar de mulheres, mulheres e mulheres.
- Minha é prima é muito gostosa... é mais nova, mas puta que pariu, tem uns peitinhos - disse Miguel
- Que bom, e onde ela mora? - perguntei
- No Paraná.
- Puta que la merda, Miguel, a mina mora no Paraná? Fala de algo mais próximo!
- Ah, sabe a fulana (esqueci o nome dela, era da nossa classe)?
- Sei.
- Comi ela, cara. Ela ficou de calcinha, de quatro, e eu só pus a calcinha de lado e mandei bala.
- Caramba, e ela?
- Gostou, mas foi rápido, sei lá...
- Sei.
A conversa continuava:
- Mano, um dia estava comendo uma ficante. - começou Miguel
- E aí? - perguntei
- Estava no "bem bom", metendo com força, ela gritando alucinada e de repente ela grita "vai meu touro, mete com força". - Miguel parecia um italiano ao me contar essa história, gesticulava, falava alto
- Hahaha e daí?
- Mano, a mina me chamou de touro e quis que ficasse tudo tranquilo? O caralho! Tirei meu pau da buceta dela e mandei: "Como assim, touro? Você tá me chifrando, caralho?!"
- Hahahaha, mano, você não fez isso.
- Fiz, porra. Nem fodendo que a mina vai me chamar de touro!
- Vai se foder, a mina tá lá, quase gozando... às vezes ela fala essas coisas, tipo, meu macho, meu tigrão...
- Sei lá, cara, a verdade é que mulher nenhuma me chama de touro!
- Que se foda.
A conversa continuou nessa linha. O Miguel sempre contando suas histórias e eu, cabaço, sem nada de interessante pra contar, afinal, minha primeira namorada era a mesma daquela hora, nunca havia comido outra boceta. Eu só ouvia, ria, concordava e discordava.
Estávamos chegando na metade do caminho, já era bem tarde, e estávamos em frente à Igreja Margarida Maria, ao lado do cemitério da Vila Mariana. No instante que caminhávamos, perto de um estacionamento, um cara sombrio nos seus 21 anos chegou perto de nós:
- Aê, alguém tem fogo aê? - perguntou o elemento
- Fogo não, mas se quiser álcool, eu tô cuspindo álcool - respondi "cabaçamente" achando que tinha bebido pra caralho
- Vocês estão indo pra onde? - perguntou o elemento
- Pra casa - repsondeu Miguel
- Onde vocês moram?
- Aqui na região - me adiantei pra responder
- Só... - balbuciou o elemento
Puta merda, o cara tava louco de maconha, devia ter fumado muito, os olhos vermelhos, magro, de boné e voz lenta, torturante. Fomos caminhando por mais alguns metros e o Miguel me olhava de lado, me passando a mensagem "esse cara é nóia, é suspeito". Eu captava a mensagem, mas o filho da puta conversava, conversava, falava que nos conhecia, que estudava num colégio de supletivo noturno lá na Ana Rosa. Quando um ônibus passava, ele falava "olha quanta buceta nesse busão". Ele falava as coisas, nós respondíamos e ele falava: "do que vocês estão falando". Puta que pariu, o cara tava loucão. Chegamos na Coronel Diogo, uma rua que cruza a Lins de Vasconcelos. O Miguel encontrou um amigo na padaria de esquina e conseguiu uma carona pra casa.
- Felipe, vou ficando por aqui, ele vai me dar uma carona - disse Miguel
- Beleza, até mais então, mano - repondi me despedindo
Mas o filho da puta do elemento sombrio e noiado não me largava. Havia mais um quarteirão pra andar e o cara continuou me perseguindo.
- Aê mano, vamo colar aqui mesmo, ficar zoando um pouco... - propôs o elemento
- Não cara, tenho que trabalhar amanhã... acordar 5 da manhã é chato. A gente se fala depois, você não cola o tempo todo lá na escola? - tentei despedí-lo bem no momento em que três caras, amigos dele chegaram.
- Então, esse é fulano, esse é beltrano e esse é ciclano - o elemento apresentou mais três elementos tão sombrios quanto ele
- Opa, e aí? Beleza? - cumprimentei-os
Os caras me cumprimentaram e ficaram parados enquanto eu andava, tentando atravessar a avenida. Tentei pela última vez me livrar do cara:
- A gente se vê amanhã à noite, la na escola.
- Que escola, mano? - me perguntou, denunciando sua confusão mental
- A minha, mano, falei dela pra você o tempo todo, como você me pergunta "qual escola"? - me irritei
- Mano, você é estranho - o louco me disse
E quando parei pra raciocinar sobre a última frase dele, ele me virou uma "cadernada" na cara. Eu que estava meio tonto pelas bebidas, fiquei mais ainda. Lembro de ter erguido minha vista e ver os outros três amigos dele correndo em minha direção. Puta que la merda, eu tava fodido. Era melhor correr pra casa. Minhas pernas bambas me assustavam, corri como um louco, peguei outro caminho mais longo, para se caso eles me perseguissem mesmo, não saberia o caminho do meu prédio. Lembro de ter olhado pra trás e ter visto os quatro parados e o elemento principal, loucão, gritando alguma coisa. Cheguei com respiração ofegante no meu prédio, parei nas escadas e lembro ter feito alguma oração. No desespero, meu filho, não existem ateus. Me recompus, entrei em casa e todos perguntavam preocupados, onde eu estava. A minha namorada havia ligado várias vezes. Liguei pra ela, dei uma desculpa idiota, troquei de roupa e fui dormir às 2:30hs, pra acordar às 5:00hs.
Que cabaço.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Bukowski e Hemingway...
Sexta feira... estávamos na pilha pra chegar botando fogo na DJ Club. Abro meu messenger e o Benício estava lá.
- Bukowsky, vamos numa festa na casa da Cynara? Jay, vai rolar breja, umas minas... vâmo?
Putz, até hoje eu não entendo o motivo do Benício me chamar. Ele sabe que é só dizer o local e a hora que eu tô lá. Mas beleza, deve ser algo mais formal da parte dele. Foda-se a formalidade. Marcamos na estação do metrô da Consolação. O Bena queria descer a Augusta e passar pela Oscar Freire (rua burguesa de merda). Passamos e ficamos olhando aquela mulherada gostosa, com sacolas e mais sacolas nas mãos. Só grife famosa. Aquela mulherada, cheia da grana pra gastar... Nessas horas eu penso em como seria feliz tendo uma senhora pra cuidar de mim. Mas beleza, por enquanto ficamos na putaria, fazer o quê? Atravessamos a Rebouças e entramos na Teodoro Sampaio. O Fernando estava à caminho, iria nos encontrar lá.
Conversa vem, conversa vai e lá estávamos, o Hemingway e eu em frente à casa da Cynara. Tocamos a campainha e a Cynara surge com um sorriso imenso, de orelha à orelha. Bem, ela tem um semblante simpático, como dizem as porras dos hippies, auto-astral. Cabelinho curto, piercing no nariz (acho que era no nariz) e sim, um sorriso maravilhoso!! Adorei conhecê-la (ahã, eu não a conhecia!). O Bena me apresentou como Felipe e ela me deu um abraço forte, daqueles bem apertados. Senti um clima legal no ar. Chegamos lá, umas seis pessoas disputavam o pequeno espaço do sofá para assistir Trainspotting. Aquele filme é demais. Você pode assitir quatrocentas e quatorze vezes (?) que você não enjoa. Sempre encontra um detalhe inédito. Chegamos no fim do filme, tudo bem. Nos apresentamos pro pessoal, todo mundo com uma cervejinha na mão, um drink de vodka rodando nas mãos de todos... escurinho. Fiquei deitado no chão com uma puta almofada. Acendi um cigarro e fiquei na minha, em silêncio. O Bena ficava causando, falando várias coisas pra elas. Comecei a notar uma coisa: a Cynara e a Dani (uma amiga gostosa dela, muito gente fina, diga-se por passagem) têm namorados. E eles dois tem uma coisa em comum: bissexuais! E mais levados pro lado bicha, mesmo! Putz... olhei pras duas e pensei:
- Puta desperdício do caralho!
Um deles bolou um baseadinho e passou pra gente. Demos uns pegas (o Bena não) só pra relaxar. Tava tudo tranquilo, na boa. O Bena e eu saímos pra comprar mais cerveja, afinal, só faltava mais uma caixa pra acabar o estoque e claro, o desespero bate! Uma moreninha gostosinha foi abrir o portão pra gente, e nós a convidamos pra ir conosco. Ela topou e começou a conversar com o Bena. O estilo de xaveco do Bena nunca é o mesmo, talvez seja esse o motivo pelo qual as garotas não fogem, não conseguem arranjar uma desculpa pra se livrar de suas garras. Porém a Rafaela se estragou na maconha e na vodka. Ela começou a fraquejar, dentro do supermercado. De repente se apoiou em mim, e eu fui guiando a garota até a volta. Tivemos que subir algumas escadas, e ela não aguentou. Tive que sentá-la numa calçada e esperar a brisa dela passar. O Fernando ligou dizendo que já estava na região mas não sabia onde ficava a casa. O Bena passou o endereço e mandou ele se virar. Enquanto isso, eu acariciava a Rafaela, pra ver se ela se aclamava, afinal, ela tava puta da vida:
- Porra! Detesto fumar maconha! Olha como eu fico!! - gritou revoltada
- Relaxa, minha vida, essa brisa passa. Fica de boa. - respondi com calma, colocando a cabeça dela no meu ombro
- Vocês não querem ficar aí enquanto eu vou buscar o Fernando? - perguntou o Bena, preocupado com o senso de localização do Fernando
- Não jay, peraê que ela levanta aqui, só um minutinho... Com dificuldades levantei a Rafa e continuei guiando a moça.
Olha a merda em que fomos parar... hahahaha... Eu também estava na brisa, mas aquela brisa legal, relaxante.Enfim chegamos à casa da Cy, e já dava pra ver o Fernando se misturando com o pessoal lá dentro da casa.
- Fala Fê! Que bom te ver!! - falei dando um abraço nele
- E aê jão! Até que enfim chegaram!
- Putz, a mina ali ficou chapadona de erva e tivemos que trazê-la nos braços!
- O que? Erva? Onde? Porra, nem me esperaram! - mandou sem dó
- Calma, jay, o pessoal tem mais! Tá tirando? hahahaha - falei com incerteza, afinal, nem sabia quem tinha a erva
Colocamos as brejas no congelador e saímos pra nos misturarmos. Acendi outro cigarro e fiquei ali, conversando na roda, no quintal. O Fernando me mostrou os três charutos que ele trouxe (começamos a fumar charutos há um tempinho atrás). Aí um tal de Armando sacou um Volvo (charuto) e falou:- Então vocês curtem um charuto também?
- É, olha o cara, esnobando! - disse o Fernando com aquela sinceridade maldita
- Vocês estão fumando qual?
- Pimentel, é da Bahia. Muito bom, acho que é o melhor nacional. - respondi pra ele, tentando passar a impressão de que entendia do assunto
- Deixa eu provar um pouco... Baforou nosso humilde charuto.
- O Pimentel é bom, sim!
- Bom é o seu! - disse o Fernando, louco pra queimar aquela merda importada
- Vou guardar esse aqui, mas a gente fuma depois - disse Armando, enquanto escondia o charuto no bolso.
Nem fodendo que ele deixaria a gente fumar aquela merda. Não vimos nem a cor dele.Os namorados bissexuais da Cy e da Dani saíram juntos. Aí a Cy se ouriçou toda! hahahaha! Primeiro o Bena lascou vários beijos monstruosos nela. E ela adorou, porra, ela precisava de homens! Depois eu passei por ela, e ela deu um murro no meu peito! Legal! Me abraçou, depois esfregou aquela bundinha no meu pau. Porra. Quase gozei ali mesmo! haahhaha! Depois sentou no meu colo (eu estava sentado no sofá) e foi aquela maravilha. Só que o Henrique (outro bicha, mas muito gente fina) tirou a garota do meu colo! Porra! Era ali! Naquela hora! Mas não! Puta que pariu! Depois o Luis, tio da Dani enrolou outro baseado e ficamos ali, fumando, ele, uma mulher baixinha e loira, o Fernando e eu. Enquanto estávamos ali, curtindo o baseadinho, o Dengue, um amigão, bebeu mais do que podia, fumou alguns tragos de maconha e já estava no banheiro passando mal. Vomitou na privada, na pia da cozinha, no pote do liquidificador. Ele realmente estava mal, afogado nas águas da depressão alcólica, sentado na privada, no escuro. Fazer o quê? Temos que nos preparar pra tudo. Eu confesso que vejo dignidade na loucura que o álcool trás. Diabos, que papo de bebum... hahahaha!
O tempo foi se abreviando mais e mais, e não podíamos ficar mais. Nos despedimos de todos, e o Benício, com sua habilidade social, saiu elogiando o Armando, o cara do charuto importado, que passou a noite inteira fazendo batidas sofisticadas... ah! sofisticadas? A gente nem notou isso... Abraço pra lá, beijo pra cá, e algo me chamou a atenção: a Cynara me despediu com beijos no rosto, no canto da boca, no pescoço! Eu sei que não tem nada a ver... somos todos jovens e putões, mas adorei essa despedida! Acho que devo visitá-la mais... e sair mais vezes!No caminho para a DJ, eu e o Fernando conversávamos e o Benício ficava pra trás, trêbado. Ele adotou um novo apelido para mim: BUKOWSKI. Adorei, afinal, o cara é o meu ídolo! hahahaha! Só que se ele simplesmente me chamasse de Bukowski, como regularmente me chama de Pipoko, seria legal. Porém, no caminho pra DJ, ele ficava gritando com todos os pulmões possíveis:
- BUKOWSKI!!!! Você é meu irmão, Bukowski!
Eu morria de rir, o Fernando ria pra caralho... tudo estava divertido. Até que como uma mula, o Bena empacou. À vinte metros da DJ! Queria dormir na grama, na frente de um prédio comercial.
- Bena, vâmo lá, jay! Já tâmo aqui do lado... - supliquei com toda ternura
- Ô Bukowski, se vocês quiserem entrar, podem ir... vou ficar aqui dormindo... - balbuciou o Bena
- Porra Benício, você vai estragar nossa noite mesmo, jão? Porra! Vâmo lá! - Fernando implorou de modo imperativo
- Jay, eu tô dizendo. Eu tô loucão. Eu não vou entrar na DJ assim. Espera um pouco, deixa eu me recuperar! - respondeu Benício
- Ah, mano... eu não vou entrar sem você, Bena, vai se foder... vamo entrar aí! - tentei pela última vez
- Benício, caralho! Se você não entrar, eu não entro... mas também nunca mais saio com você de rolê! - Fernando ameaçou
- O caralho, mano! Se você quer ficar nervoso, eu também posso ficar! Eu já disse que eu não vou entrar na merda da DJ porque eu tô zoado, porra! Se você não quiser entrar, não entra! Agora não vem com essas ameaças não! - respondeu o Benício putasso
O meu desespero e o do Fernando se intensificava, porque dava pra ouvir o som que estava na pista. Os Ramones estavam dando o som. Blitzkrieg Bop. Enfim, conseguimos convencer o Benício a ir com a gente. Carregamos ele até a entrada da DJ. Poucos problemas depois (ele não sabia o nome dele mesmo), entramos e nos misturamos com os vermes. O Erich, a Sílvia e o Kurt estavam de saída. O Zafa e a Elisa estavam na recepção. Conversamos algumas coisas e fomos pra pista. O Benício caiu num puf e não levantou mais até o fim da balada. Gastei toda a minha comanda com água mineral. Desperdicei uma garrafinha jogando água na pista... afinal, estava tocando "Buldog Skin" do Guided by Voices... para poucos, man! Nos acabamos na pista. Eu olhava pro Fernando e nós dois, telepáticamente nos comunicávamos... sabíamos que ninguém se divertiu e causou tanto quanto a gente naquela noite.
- Bukowsky, vamos numa festa na casa da Cynara? Jay, vai rolar breja, umas minas... vâmo?
Putz, até hoje eu não entendo o motivo do Benício me chamar. Ele sabe que é só dizer o local e a hora que eu tô lá. Mas beleza, deve ser algo mais formal da parte dele. Foda-se a formalidade. Marcamos na estação do metrô da Consolação. O Bena queria descer a Augusta e passar pela Oscar Freire (rua burguesa de merda). Passamos e ficamos olhando aquela mulherada gostosa, com sacolas e mais sacolas nas mãos. Só grife famosa. Aquela mulherada, cheia da grana pra gastar... Nessas horas eu penso em como seria feliz tendo uma senhora pra cuidar de mim. Mas beleza, por enquanto ficamos na putaria, fazer o quê? Atravessamos a Rebouças e entramos na Teodoro Sampaio. O Fernando estava à caminho, iria nos encontrar lá.
Conversa vem, conversa vai e lá estávamos, o Hemingway e eu em frente à casa da Cynara. Tocamos a campainha e a Cynara surge com um sorriso imenso, de orelha à orelha. Bem, ela tem um semblante simpático, como dizem as porras dos hippies, auto-astral. Cabelinho curto, piercing no nariz (acho que era no nariz) e sim, um sorriso maravilhoso!! Adorei conhecê-la (ahã, eu não a conhecia!). O Bena me apresentou como Felipe e ela me deu um abraço forte, daqueles bem apertados. Senti um clima legal no ar. Chegamos lá, umas seis pessoas disputavam o pequeno espaço do sofá para assistir Trainspotting. Aquele filme é demais. Você pode assitir quatrocentas e quatorze vezes (?) que você não enjoa. Sempre encontra um detalhe inédito. Chegamos no fim do filme, tudo bem. Nos apresentamos pro pessoal, todo mundo com uma cervejinha na mão, um drink de vodka rodando nas mãos de todos... escurinho. Fiquei deitado no chão com uma puta almofada. Acendi um cigarro e fiquei na minha, em silêncio. O Bena ficava causando, falando várias coisas pra elas. Comecei a notar uma coisa: a Cynara e a Dani (uma amiga gostosa dela, muito gente fina, diga-se por passagem) têm namorados. E eles dois tem uma coisa em comum: bissexuais! E mais levados pro lado bicha, mesmo! Putz... olhei pras duas e pensei:
- Puta desperdício do caralho!
Um deles bolou um baseadinho e passou pra gente. Demos uns pegas (o Bena não) só pra relaxar. Tava tudo tranquilo, na boa. O Bena e eu saímos pra comprar mais cerveja, afinal, só faltava mais uma caixa pra acabar o estoque e claro, o desespero bate! Uma moreninha gostosinha foi abrir o portão pra gente, e nós a convidamos pra ir conosco. Ela topou e começou a conversar com o Bena. O estilo de xaveco do Bena nunca é o mesmo, talvez seja esse o motivo pelo qual as garotas não fogem, não conseguem arranjar uma desculpa pra se livrar de suas garras. Porém a Rafaela se estragou na maconha e na vodka. Ela começou a fraquejar, dentro do supermercado. De repente se apoiou em mim, e eu fui guiando a garota até a volta. Tivemos que subir algumas escadas, e ela não aguentou. Tive que sentá-la numa calçada e esperar a brisa dela passar. O Fernando ligou dizendo que já estava na região mas não sabia onde ficava a casa. O Bena passou o endereço e mandou ele se virar. Enquanto isso, eu acariciava a Rafaela, pra ver se ela se aclamava, afinal, ela tava puta da vida:
- Porra! Detesto fumar maconha! Olha como eu fico!! - gritou revoltada
- Relaxa, minha vida, essa brisa passa. Fica de boa. - respondi com calma, colocando a cabeça dela no meu ombro
- Vocês não querem ficar aí enquanto eu vou buscar o Fernando? - perguntou o Bena, preocupado com o senso de localização do Fernando
- Não jay, peraê que ela levanta aqui, só um minutinho... Com dificuldades levantei a Rafa e continuei guiando a moça.
Olha a merda em que fomos parar... hahahaha... Eu também estava na brisa, mas aquela brisa legal, relaxante.Enfim chegamos à casa da Cy, e já dava pra ver o Fernando se misturando com o pessoal lá dentro da casa.
- Fala Fê! Que bom te ver!! - falei dando um abraço nele
- E aê jão! Até que enfim chegaram!
- Putz, a mina ali ficou chapadona de erva e tivemos que trazê-la nos braços!
- O que? Erva? Onde? Porra, nem me esperaram! - mandou sem dó
- Calma, jay, o pessoal tem mais! Tá tirando? hahahaha - falei com incerteza, afinal, nem sabia quem tinha a erva
Colocamos as brejas no congelador e saímos pra nos misturarmos. Acendi outro cigarro e fiquei ali, conversando na roda, no quintal. O Fernando me mostrou os três charutos que ele trouxe (começamos a fumar charutos há um tempinho atrás). Aí um tal de Armando sacou um Volvo (charuto) e falou:- Então vocês curtem um charuto também?
- É, olha o cara, esnobando! - disse o Fernando com aquela sinceridade maldita
- Vocês estão fumando qual?
- Pimentel, é da Bahia. Muito bom, acho que é o melhor nacional. - respondi pra ele, tentando passar a impressão de que entendia do assunto
- Deixa eu provar um pouco... Baforou nosso humilde charuto.
- O Pimentel é bom, sim!
- Bom é o seu! - disse o Fernando, louco pra queimar aquela merda importada
- Vou guardar esse aqui, mas a gente fuma depois - disse Armando, enquanto escondia o charuto no bolso.
Nem fodendo que ele deixaria a gente fumar aquela merda. Não vimos nem a cor dele.Os namorados bissexuais da Cy e da Dani saíram juntos. Aí a Cy se ouriçou toda! hahahaha! Primeiro o Bena lascou vários beijos monstruosos nela. E ela adorou, porra, ela precisava de homens! Depois eu passei por ela, e ela deu um murro no meu peito! Legal! Me abraçou, depois esfregou aquela bundinha no meu pau. Porra. Quase gozei ali mesmo! haahhaha! Depois sentou no meu colo (eu estava sentado no sofá) e foi aquela maravilha. Só que o Henrique (outro bicha, mas muito gente fina) tirou a garota do meu colo! Porra! Era ali! Naquela hora! Mas não! Puta que pariu! Depois o Luis, tio da Dani enrolou outro baseado e ficamos ali, fumando, ele, uma mulher baixinha e loira, o Fernando e eu. Enquanto estávamos ali, curtindo o baseadinho, o Dengue, um amigão, bebeu mais do que podia, fumou alguns tragos de maconha e já estava no banheiro passando mal. Vomitou na privada, na pia da cozinha, no pote do liquidificador. Ele realmente estava mal, afogado nas águas da depressão alcólica, sentado na privada, no escuro. Fazer o quê? Temos que nos preparar pra tudo. Eu confesso que vejo dignidade na loucura que o álcool trás. Diabos, que papo de bebum... hahahaha!
O tempo foi se abreviando mais e mais, e não podíamos ficar mais. Nos despedimos de todos, e o Benício, com sua habilidade social, saiu elogiando o Armando, o cara do charuto importado, que passou a noite inteira fazendo batidas sofisticadas... ah! sofisticadas? A gente nem notou isso... Abraço pra lá, beijo pra cá, e algo me chamou a atenção: a Cynara me despediu com beijos no rosto, no canto da boca, no pescoço! Eu sei que não tem nada a ver... somos todos jovens e putões, mas adorei essa despedida! Acho que devo visitá-la mais... e sair mais vezes!No caminho para a DJ, eu e o Fernando conversávamos e o Benício ficava pra trás, trêbado. Ele adotou um novo apelido para mim: BUKOWSKI. Adorei, afinal, o cara é o meu ídolo! hahahaha! Só que se ele simplesmente me chamasse de Bukowski, como regularmente me chama de Pipoko, seria legal. Porém, no caminho pra DJ, ele ficava gritando com todos os pulmões possíveis:
- BUKOWSKI!!!! Você é meu irmão, Bukowski!
Eu morria de rir, o Fernando ria pra caralho... tudo estava divertido. Até que como uma mula, o Bena empacou. À vinte metros da DJ! Queria dormir na grama, na frente de um prédio comercial.
- Bena, vâmo lá, jay! Já tâmo aqui do lado... - supliquei com toda ternura
- Ô Bukowski, se vocês quiserem entrar, podem ir... vou ficar aqui dormindo... - balbuciou o Bena
- Porra Benício, você vai estragar nossa noite mesmo, jão? Porra! Vâmo lá! - Fernando implorou de modo imperativo
- Jay, eu tô dizendo. Eu tô loucão. Eu não vou entrar na DJ assim. Espera um pouco, deixa eu me recuperar! - respondeu Benício
- Ah, mano... eu não vou entrar sem você, Bena, vai se foder... vamo entrar aí! - tentei pela última vez
- Benício, caralho! Se você não entrar, eu não entro... mas também nunca mais saio com você de rolê! - Fernando ameaçou
- O caralho, mano! Se você quer ficar nervoso, eu também posso ficar! Eu já disse que eu não vou entrar na merda da DJ porque eu tô zoado, porra! Se você não quiser entrar, não entra! Agora não vem com essas ameaças não! - respondeu o Benício putasso
O meu desespero e o do Fernando se intensificava, porque dava pra ouvir o som que estava na pista. Os Ramones estavam dando o som. Blitzkrieg Bop. Enfim, conseguimos convencer o Benício a ir com a gente. Carregamos ele até a entrada da DJ. Poucos problemas depois (ele não sabia o nome dele mesmo), entramos e nos misturamos com os vermes. O Erich, a Sílvia e o Kurt estavam de saída. O Zafa e a Elisa estavam na recepção. Conversamos algumas coisas e fomos pra pista. O Benício caiu num puf e não levantou mais até o fim da balada. Gastei toda a minha comanda com água mineral. Desperdicei uma garrafinha jogando água na pista... afinal, estava tocando "Buldog Skin" do Guided by Voices... para poucos, man! Nos acabamos na pista. Eu olhava pro Fernando e nós dois, telepáticamente nos comunicávamos... sabíamos que ninguém se divertiu e causou tanto quanto a gente naquela noite.
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