(...)
- Tudo bem, querido. Aos diabos! – Claudia deu sorriso e puxou um cigarro.
- E você está morando onde, coração?
- Estou na casa de uma amiga travesti, lá na Santa Cecília.
- Em nome de Deus! Hahaha!
- O que foi? – perguntou contrariada, soltando fumaça pelo nariz, enqaunto guardava o maço na bolsa.
- Calma, meu bem. Acho os travestis engraçados, só isso. Fico imaginando como deve ser morar com um.
- É normal, se você quer saber. São gente como qualquer outra. O foda é o preconceito. Mas são gente finíssima.
- Não duvido. Só acho curioso – acendi um cigarro também – Pois bem, arrume suas malas e vamos morar comigo. O que acha?
- Tem certeza? Assim tão rápido?
- Olha, tudo pra te ver todos os dias! Tudo, extremamente tudo! – ergui minha voz assim como ergui meu cigarro.
- Que assim seja! – ela também ergueu seu cigarro.
Não havia achado meu whisky nem o resto das compras. Que se dane.
Rumamos para a Santa Cecília num ônibus lotado. Ficamos em pé durante todo o trajeto e me pus atrás de Claudia, encoxando sua bundinha redonda. Eu não me agüentava de alegria. Às vezes me beliscava, me ria, me tudo. Mordia sua nuca sem o mínimo pudor e ela dava um gemidinho sem se preocupar com o olhar dos outros passageiros. Eu estava a ponto de uma erupção de tesão, erupção de lava aquecida com paixão, amor e desejo. Eu era um vulcão ambulante, pronto para explodir com tudo a minha volta. Descemos há cinqüenta metros do prédio onde morava o travesti. Ela perguntou se eu queria subir e eu educadamente me recusei acendendo um cigarro. Fiquei observando o trânsito, as pessoas estranhas que passavam e o tempo passava. E ela não descia. Comecei a imaginar milhões de coisas. Talvez o travesti enfurecido pela saída brusca da amiga tenha feito Claudia como refém, ou dado facadas em seu lindo colo, ou entorpecido ela com éter ou ainda mais: trancado minha mulher num banheiro fedendo à vaselina e cheio de rastros de drogas! Fiz cara de nojo ao ver um travesti passar e cuspi no chão. Comecei a andar de um lado ao outro, acendi outro cigarro e pus as mãos no bolso. Cocei a cabeça e puxei um pouco do meu cabelo. “Cala a boca, cérebro idiota dos infernos”, eu murmurava. Avistei um boteco caindo aos pedaços e sai correndo até lá.
- Um conhaque com limão!
O atendente me olhou com cara de mosca cagada e pegou a garrafa de Dreher. Cortou o limão lentamente e o espremeu no copo. Um gota de limão voou no olho do infeliz.
- Caralho de limão! – gritou o atendente, abrindo a torneira, buscando água para aliviar o incômodo ácido.
Olhei impaciente para o lado de fora e a Claudia ainda não havia descido. “Caralho, cérebro idiota, talvez ela tenha muitas roupas, maquiagens, chapéus, vibradores, discos entre outras coisas pra arrumar”, pensei enquanto voltava ao balcão. O atendente ainda coçava o olho e o meu copo continuava com umas gotas de limão e mais nada. Peguei a garrafa e servi uma dose. Peguei a outra banda do limão e a espremi. O drink estava pronto. Quando levantei o copo, o atendente puxou um pano e o ergueu.
- Ei! Ei! O que é isso? Eu sirvo as doses aqui, camarada! – perdigotos voavam a esmo, como uma chuva de granizo em meu rosto. Me irritei.
- Eu peço uma dose, e você demora! O que custa eu servir aqui a minha própria dose?
- Eu sirvo as doses aqui!
- E daí? Não estou falando nada contrário a isso! Estou apenas dizendo que preciso da dose rapidamente e tive que me servir! Tirei um pedaço de você? Você serve a dose de uma forma especial?
O atendente parou por alguns segundos e ficou me encarando. De repente, jogou o pano em minha cara. Atitude infantil. Peguei a dose, dei uma gole rápido e joguei o resto na cara dele.
- Desgraçado! Desgraçado! – pulava e gritava como um macaco com pimenta no rabo – Meu olho, seu miserável, filho duma puta!
- Vai tomar no seu cu! – revidei, aproveitando sua cegueira momentânea e dando o fora daquela pocilga.
Cheguei perto do prédio do travesti e fiquei parado na esquina, observando de longe o movimento dentro do boteco. Nada aconteceu. Nem sinal do mocorongo. Acendi outro cigarro e nada da minha mulher chegar. “Puta que me pariu!”, rosnei enquanto andava em círculos. Senti um toque no meu ombro direito. Não podia ser a mão da Claudia. Era pesada e passava uma sensação de morte iminente. Me virei.
- Campeão, ta afim de uma diversão essa noite? Boceta na cara a noite toda! Vinte conto pra entrar, quatro latinhas de Brahma pra beber! É só entrar ali – apontou para um puteiro sujo chamado Gengis Khan American Bar.
- Gengis Khan? Hahaha! Puta merda, só me faltava isso mesmo! – exclamei em meio a risadas.
O gorila que me abordou era um negro imenso, mãos gigantes, como meu ombro já havia sentido, e uma cicatriz na fronte, devia ter sido alguma facada de raspão. Ele me olhou confuso, coçou o queixo e franziu a testa.
- O que tem o nome do lugar, campeão? – me questionou ainda com a mão no queixo.
- Nada, cara, nada. Só achei engraçado.
- Bem, se quiser, entra lá. Diversão garantida, falou?
- Falou, mas eu passo. Já tenho mulher. Agradeço de verdade.
Ele deu de ombros e voltou para a entrada do puteiro. Respirei fundo e me deparei com o que havia dito segundo atrás: “já tenho mulher”. Meu Deus, há poucas horas eu não me imaginava mais feliz. Me via em alguns meses como um mendigo, igual os que queria chutar e botar fogo. E agora tenho minha mulher. A vida era cheia de surpresas e eu, um moleque me esbaldando com o presente numa manhã de natal.
Tive uma idéia. Corri para a entrada do prédio e nada. Apertei todos os botões de interfone, de todos os apartamentos. Em alguns segundos, várias vozes começaram a responder.
- Sou eu! – gritei com a mão na boca, abafando minha voz.
Algumas pessoas perguntavam “eu quem?”, porém alguém que devia estar a esperar por um cara de voz embargada, abriu a porta do prédio sem a mínima cerimônia. Dei uma risada e pensei no que fiz: “sou um gênio!”. Fui de porta em porta tocando as campainhas. Peguei um papelzinho que estava no bolso de minha camisa e fingi ser uma referência de endereço.
- Pois não? – era uma mulher descabelada, de roupão de banho, que havia atendido a porta.
- É aqui que mora a Claudia? – perguntei olhando para o papelzinho.
- Claudia? Não, você tocou no apartamento errado – respondeu me olhando com desconfiança. Ela só não desconfiou que um de seus seios saltou do roupão.
Tentei olhar nos olhos dela, mas não resisti e mirei minha vista nos seus mamilos. Ela percebeu a investida dos meus olhos e percebeu sua nudez. Bateu a porta na minha cara. Pude ouvir ela praguejando contra tudo e todos lá dentro. Dei uma risada e fui para a porta ao lado.
A abordagem era sempre a mesma, e nada da Claudia. Eu desanimava toda vez que uma mulher ou homem atendia. Eu queria que um travesti atendesse, para dar um murro na cara dele, ameaçá-lo de morte caso chegasse perto de minha mulher de novo. Resgatar a pobre Claudia do cárcere do banheiro e voltar triunfante para o meu apartamento, trazendo minha donzela em segurança. Já estava no quarto andar e nada de travesti, nada de Claudia, nem cárcere privado e socos na cara. O que me tranqüilizava é que o prédio não tinha elevador, o que faria eu ver a Claudia descendo pelas escadas. No quinto andar, no segundo apartamento, toquei a campainha impaciente.
- Já vai! – gritou uma voz de mulher.
A porta se abriu e pra minha frustração, outra mulher. Como mandava o script, fiz a pergunta sobre a Claudia. Quando me preparava para dar as costas me desculpando pelo incômodo, a mulher pediu para eu entrar. Interrompi meu movimento de saída e olhei para dentro do apartamento. Claudia estava com uma toalha enrolada na cabeça, e outra enrolada em seu corpo.
- Querido! Me desculpe a demora! Fui tomar um banho enquanto a Gisele arrumava minhas coisas. Ela estava dobrando minhas roupas. Pensei que não ia demorar tanto, e acabei atrasando. Entre!
- Tudo bem, coração. Licença – limpei meus pés no capacho de entrada e adentrei o apartamento.
Cumprimentei Gisele com um beijo e sentei no sofá. “Que bom, o traveco não está aqui”, pensei. O mulherão entrou na cozinha e ouvi barulho de copos.
- O quê você bebe, Evandro? – perguntou Gisele, aos gritos.
- O que temos aí? – e me direcionei para a cozinha.
Gisele era uma mulher atraente, com seios fartos, pernas fortes, e um rabo redondo, perfeito. “Que a Claudia me perdoe, mas que mulher gostosa!”, pensei enquanto olhava para as pernas da moça. Ela tinha vodka no congelador e umas latas de cerveja.
- As cervejas ainda estão gelando. A vodka está geladinha! Gosta de caipiroska? – me perguntou com voz suave e sedutora.
- Eu amo caipiroska. Você sabe fazer? Qualquer coisa, eu faço. Não se incomode!
- Não, não. Você está no meu apartamento e vai beber a minha caipiroska.
- Tudo bem, tudo bem.
Voltei à sala e perguntei à Gisele se podia fumar no apartamento. Ela consentiu e eu saquei um cigarro. Acendi e relaxei no sofá. O amor da minha vida se arrumando lá no quarto e uma gostosa na cozinha fazendo um drink pra mim. A vida não podia ser melhor. Minutos depois, o cigarro chegava na reta final e a gostosona chegava com o drink.
- Caramba, você caprichou! Com canudinho e tudo mais! – me levantei olhando com afinco para os seios da moça. E por olhar somente para os seios, errei na hora de pegar o copo, tocando em sua mão.
- Opa! Hahahaha! Aqui está o copo, xuxu!
- Me desculpe, me desculpe. Eu sou um distraído! – dei uma risada tímida e uma bicada na bebida – Deliciosa! Docinha? Como você faz isso?
- É só tirar uma parte branquinha do limão, aqui é o que deixa amargo. É rapidinho e a caipiroska fica doce.
- Vou anotar esse truque!
A Claudia demorava para se arrumar. Eu ouvia o barulho do secador no quarto trancado e me conformava. Gisele foi ao quarto onde estava Claudia e trocou algumas palavras com ela. A moça era uma ótima anfitriã. Além de uma ótima conversa, ela cruzava e descruzava as pernas sem parar e isso foi me atiçando. Cruzei minhas pernas quando senti a ereção chegar. Fiquei sem graça e mantive as pernas cruzadas. Seus seios imploravam por uma bata, algo mais espaçoso. Naquela blusinha não respiravam. Me impressionei com as pernas fortes e torneadas da moça e comecei a sentir um calor danado. Tentei apreciar o apartamento, a decoração de bom-gosto, a televisão maravilhosa de LCD. Uma bandeirinha do São Paulo Futebol Clube. Nada tirava minha atenção dela. Eu queria levantar, mas meu pau estava duro como uma pedreira inteira, prestes a desmoronar. Ela continuava firme à minha frente. Quando ela olhos para um lado, derrubei um pouco de caipirinha no chão. Ela teria que ir para a cozinha buscar um pano.
- O pano fica na pia da área de serviço. Ele está torcido – me instruiu apontando para a cozinha.
- Pega lá, meu bem. Não sei nem onde fica a área – tentei negociar.
- Deixa de ser bobo, essa apartamento é um ovo. Você sabe onde fica a área de serviço.
Bufei. Blasfemei em pensamento. Ela começou a dar risadas. A desgraçada já havia percebido. Dei um profundo suspiro e pensei em minha avó, gorda, cheia de varizes, com um biquíni extremamente pequeno, dançando algum hit da Bahia. Não funcionou como de costume. Talvez eu não tenha me concentrado direito na cena bizarra. Pensei em todas as ereções que ocorriam naquele momento, em todo o mundo. Do quarto de motel mais vagabundo ao palácio mais suntuoso. A minha ereção era a mais vulgar, a mais desnecessária, a mais estúpida. Levantei de lado e virei rapidamente as costas para ela. Fiquei de frente com a parede e com o sofá. Enfim um quadro pra me salvar.
- Belo quadro, Gisele – o quadro era horrível. Parecia que o pintor havia dado o cu e logo em seguida pintado aquele lixo.
- Meu tio. Um grande artista. Me deu quando eu era moleque.
“Moleque?!”, pensei erguendo as sobrancelhas. Lembrei que tinha um travesti naquela história. Ele não estava ausente! Gisele era na verdade um Antônio, ou José ou Valdir! E eu impressionado com todo aquele corpo anormal, e nem percebi que a amiga da Claudia era um travesti asqueroso. Malditos transexuais! Senti vergonha de mim mesmo, e quando percebi, meu pau estava novamente em stand-by. Virei com todo orgulho para Gisele.
- Vou até lá pegar o pano e limpar essa porcalhada que fiz! – anunciei alegre e satisfeito com minha condição sexual restabelecida.
Caminhei até a cozinha, meio enojado, meio aliviado e alcancei o pano de chão. Quando virei as costas, Gisele estava à minha frente. Com um semblante tendencioso, olhou diretamente nos meus olhos e piscou um olho. Eu girei o pano transformando-o em um chicote improvisado, como fazem os atletas em vestiários, e me coloquei em posição de ataque. Se ela desse um passo em falso, eu a chicotearia com o pano enrolado. Mirei aquela reserva de silicone que ficava em seu busto e estava decidido a deformá-los à base de chicotadas.
- Vai com calma, querido... Você sentiu tesão, não? Por que não me toca? Vai ver o que é uma mulher durinha!
- Pela cruz de Cristo! Você não é mulher, porra! Se tentar algo, vai levar uma chicotada!
- Por que o medo? Só porque eu tenho isso? – Gisele abriu a braguilha da calça e libertou uma enguia gigantesca. Pelos meus cálculos, tinha um metro de comprimento. Mole.
- Guarda essa merda, seu veado! Guarda essa merda!
- Ou então? Vai chupar essa merda? – enquanto falava, manipulava aquele pedaço de cipó gigante.
- Cara, fica na sua com essa merda. É sério, eu to de boa aqui na minha. Essa cozinha é muito pequena pra nós dois! É o último aviso, ou você recua ou pico esse pano na sua rola. Você não vai ter ereção por anos!
- Vem aqui, vem! – e partiu pra cima de mim com aquela lança medieval em riste.
Se tocasse em mim, me furaria a barriga. Lancei o pano com violência, que ricocheteou na virilha dela. Ela deu um grito e virou seu membro pra cima de mim. Eu me esquivei batendo a cabeça num dos armários da cozinha. A manjuba dela tocou no meu braço. Eu gritei e ela gritava também. Peguei uma vassoura que estava parada num vão entre a parede e a geladeira e a ameacei. Ela recuou um pouco e segurou o seu pau. Eu gritei pela Claudia, que prontamente saiu do quarto, correndo e rindo. Eu já estava no corredor do prédio.
- Do quê você está rindo, por Deus?
- Hahaha! Nada, querido. Nada.
- Tem caroço nesse angu! Claudia, me explique essa porra!
- Calma, Vandinho. Era só uma brincadeira! Queria ver qual era sua reação se ela desse em cima de você! Quando ela foi ao quarto enquanto eu secava meu cabelo, propus a brincadeira. Queria ver qual seria a sua reação caso você levasse uma cantada dela... – Claudia explicava enquanto se aproximava lentamente.
- Cantada, coração? Cantada?! Ela colocou aquela jibóia pra fora! Isso não é cantada, pelo amor de Deus! Foi quase um estupro!
- Hahahaha! – Gisele gargalhava com o pau na mão.
- Pela alma de São José, do que você está rindo, seu veado? E que merda é essa? Guarda isso aí! Nem sei como cabe numa calça tão apertada!
- Calma, Vandinho. Já terminei de me arrumar. Leve essas malas pra baixo, por favor – ela me pedia, linda como nunca esteve antes.
Peguei as malas sem lembrar que não havia elevador no prédio. Estava encantado com a sua beleza e ao mesmo intrigado com o traveco que permanecia balançando aquela terceira perna, sem nenhum pudor ou respeito. Filho da puta. Uma maleta estava debaixo do meu braço direito e as outras duas, em cada mão. Fui com uma certa dificuldade me equilibrando nos degraus da escada.
(...)