quarta-feira, julho 12, 2006

Bons vinhos e boas amizades

Tenho 22 anos de vida e pouco sei sobre a vida. Passei por poucas e boas nessa vida, processos, investigação policial, viagens contra meu gosto, ameaças de morte, desafios no quais não me saí bem, porém não sei muito ainda. Cara, você pode passar por tudo nessa vida, e você continua um mero aprendiz. Cansei de ver gente de 40, 50, 60, 70, 80 anos de idade me dizendo que sabiam tudo, que eu precisava viver mais pra tirar conclusões. Concordo, mas se você tiver 100 anos, você continua sem saber muita coisa sobre a vida. Em parte porque você fica velho gagá, e em parte porque você não viveu todas as experiências prováveis da vida.

O que nos aguarda, irmãos dos 20 e poucos anos? Nossa idade é crucial para nossa formação, nessa idade começamos à desenvolver nossos moldes. Moldes do caráter. A educação na infância é fundamental, porém não acredito que nosso caráter esteja completamente moldado aos 18 anos, como muita gente acredita. O caráter precisa de experiência, o mínimo de experiência pra você determinar suas crenças, seus gostos e o mais importante, sua postura diante da vida. Some experiências, com educação e você terá o seu caráter formado.

E hoje em dia, estamos cercados por um bando de idiotas que resumem experiências em chupar e foder bocetas pelas noites da vida. Aí entra a questão da aparência. A destruidora aparência. Neguinha na balada puxando a barriga pra não exibir a barriguinha saliente. Puta que pariu, gente que nem gosta de rock, nas baladas de rock, vestidas como roqueiras, só pra se sentir incluída na roda social. Pelos deuses, só existe uma roda social? Tá cheio de homem que é viadinho, mas se faz de macho pra se incluir numa roda de machões. No escuro da noite, ele enfia um vibrador no cu e fantasia com um monte de homens. Sai do armário, caralho! Tem um monte de bichinhas nesse mundo, por que você não entra na roda deles (nos dois sentidos)? E o mais engraçado são esses "emos". Pra eles, tá na moda homem andar de mãos dadas com outro homem. Pra menininhas "emas", tá na moda ser sapatão! Tudo pra se incluir no círculo social. E depois reclamam de perseguição. O foda não é ser viadinho ou sapatão, ou bissexual, o foda é ser isso simplesmente por aparência. Ainda bem que ser "emo" é participar de uma febre e como toda febre, com o tempo passa.

Estou incluído num círculo social cheio de grandes amigos e amigas. Estou no lugar certo, no lugar que me ajustei. O legal da vida é estar nesse círculo certo e ao mesmo tempo, não estar. É não se limitar à velhas amizades e conhecer gente nova. Viver intensidades da vida e lembrar delas com alegria e saudade.

Porra, os velhos amigos já não são como antes. Tudo muda nessa vida fodida... todos ao seu redor mudam, seja por emprego, por mulher... Confesso que não tenho a mesma loucura de antes, afinal, TODOS mudam, e eu não fujo à regra. Mas mudar essência? Nem fodendo, amigo. Mude os ambientes, mas não deixe de ser o que você é. A pior destruição do homem é ele se moldar com moldes estranhos, moldes dos outros, só pra se encaixar num quebra-cabeças que ele não entende a figura que esse mesmo quebra-cabeça forma no final. Bando de cabaços sem personalidade. Garotinhas: seus peitinhos levemente empinados e gostosos de chupar vão cair... essa bundinha durinha, envolvida por uma calcinha de algodão, que é ideal pra meter de quatro, sentindo a carne durinha, também vai cair. Essa sua bocetinha molhadinha e tesuda vai um dia secar e ficar frígida. Essa boquinha sensual que você usa pra abocanhar uma rola ou pra beijar um cara desconhecido e estiloso, vai enrugar e vai parecer com a sua boceta... sim, na sua velhice, se algum cara te comer, vai meter na sua boca, achando que está metendo na boceta... hahahaha... o tempo passa, minha vida. O tempo é cruel, não poupa você, não respeita suas vaidades e nem olha se sua cara tá parecendo um chão de galinheiro, cheio de pés-de-galinha. Garotinhos: essa sua pica grande e cheia de bocetas pra enfiar, um dia vai ficar tão murcha que se você se olhar na luz e contemplar sua sombra, vai pensar se tratar de um elefante triste. Seu corpinho bombado, vai murchar e você vai parecer um galo velho, que nem serve pra cozinhar. Sua cabeça, coberta com esse cabelo sedoso, brilhante, daqui algum tempo vai parecer uma bola de sinuca e aí você vai ver que a frase "é dos carecas que elas gostam mais" é pura mentira. Resumindo: o tempo não perdoa, bando de cuzões.

O quê nos espera? Uma longa vida eu não sei, mas enquanto ela durar, o segredo é manter as amizade, os bons e velhos amigos. Gosto de citar e Bukowski, afinal o cara é O mestre. Um dia desses, ele disse que pra saber quem são seus amigos de verdade, você tem que arrumar uma sentença de prisão. Aqueles que te visitarem, são seus amigos. Claro que não chegaremos ao extremo, mas pelos deuses, você já é adulto pra distinguir seus verdadeiros amigos. Cara, tudo passa, mas boas amizades são pra sempre, não são como nossos corpos, que à medida que envelhecem, começam a parecer uns merdas de cachorro numa calçada... Boas amizades são como um bom vinho, italiano de preferência. O tempo passa, o tempo voa, mas bons vinhos e boas amizades continuarão numa boa.

sexta-feira, julho 07, 2006

A cidade que dorme

Estou eu aqui de madrugada, navegando pela internet. O corpo pede nicotina. Vou ao corredor do meu andar, abro a janela, vislumbro a cidade.

Acendo um cigarro.

Ah! O sagrado cigarro da madrugada. Ninguém inventou nada melhor até agora. Daqui do 22º andar a vista nãofica devendo em nada, ainda mais quando não existem prédios num raio de 200 metros. Logo após esses 200 metros, avisto a avenida Paulista e suas imponentes construções. O prédios estão encobertos por um ralo nevoeiro, porém o céu está limpo, e a Lua olha com malícia para seu namorado Terra.

Ouço alguns carros se aventurando pelas avenidas, em alta velocidade, não se preocupando com cruzamentos. Puta merda, isso me faz lembrar minha primeira batida.

Os periquitos de casa estão mais agitados que o comum, oras, eles têm uns três filhotes dentro da caixinha, e a puta da periquita-mãe não pára de pedir comida pro periquito-pai, que já deve estar de saco cheio da vida. Um dia desses, abri a caixinha deles e ví os periquitinhos-filhos. Pareciam uns franguinhos assados se retorcendo, vermelhos, cegos e com suas peninhas por nascer. Pelos deuses, o milagre da vida está acontecendo em casa!

A cidade adormecida, mostra sua fragilidade diante da escuridão de suas ruas e becos. Enquanto isso, eu fumo meu Lucky Strike e penso em como minha vida podia ser melhor, e logo me consolo pensando em como ela poderia ser pior. Por isso que pensar é besteira. Quanto mais você pensa, menos você se ajuda. Como dizia o mestre Bukowski, as pessoas que pensam menos, tendem à viver mais. Concordo.

Amanhã tenho entrevista de emprego. Minha cachorra Meg, se aproxima de mim na escuridão do corredor, cheira meu tornozelo e se deita ao meu lado. Essa filhinha duma puta está mestruada e com certeza sujou o chão do corredor. Que se foda, pagamos condomínio pra que esse sangue seja lavado.

Acho que hoje vou dormir no sofá da sala. A tv me faz dormir, vou pegar um edredon, meu travesseiro e ficar por ali mesmo.

A noite na cidade revela o que o dia escondeu, meus chapas. E uma névoa rala se instala em meio as prédios.

quarta-feira, julho 05, 2006

Cabaço é assim mesmo

Era 2002, lá pelo mês de março, eu tinha 17 anos e nada sabia sobre as ruas. Eu estava namorando uma garota de 16 anos desde 1999 e minha vida, naquele momento, se resumia à ela. Nunca havia tomado um porre sequer, nem me metido em briga nenhuma, nem palavrões eu falava muito. Eu era o verdadeiro cabaço. Minhas amizades estavam reduziadas ao pó, e a possibilidade de criar novas amizades eram quase nulas, afinal, durante a semana, tinha que acordar às 5 da manhã e trabalhar até às 17:00hs, na periferia da zona Oeste de Sampa, por uns míseros 450 reais. Depois do trabalho, me restava chegar atrasado na escola (devido ao trânsito) e voltar para casa lá pelas 23:30hs. Nos fins de semana, puta que pariu, era só ela e a família dela. Era óbvio que uma hora ou outra, algum sentimento de liberdade iria tentar aflorar, ou explodir dentro de mim.

Aflorou.

Era um dia da semana, sei lá qual era, mas as aulas estavam um saco, professores de saco cheio, afinal, haviam lecionado um monte de moleques na manhã, na tarde e ainda tinham que lecionar à um bando de trabalhadores e repetentes na noite. Ninguém era culpado nisso, confesso. Mas começamos a "cabular" aulas com frequência, ficávamos pelo pátio da escola, conversando sobre trabalho, mulheres e coisas da vida. Alguém se levantou da roda (estavamos sentados no chão) e propôs:

- Caralho, por que a gente não sai pra beber?
- É uma boa... - alguém respondeu
- E grana? O que a gente vai beber?
- Ah, lá no bar a gente vê, é só pegar uns drinks e zoar um pouco.

Nos levantamos e partimos em direção ao portão da escola. Saímos, e caminhamos da escola por uns metros até chegarmos na rua Afonso Celso. Sentamos no degrau de uma escada de um prédio antigo e vislumbrávamos o movimento dos carros. Patricinhas e playboyzinhos em seus carrinhos de 20 e tantos mil reais corriam pra lá e pra cá e nós, trabalhadores e estudantes nas horas vagas estávamos ali, contando moedas. Ao contabilizarmos tudo que tínhamos, Almir, um estudante que era pedreiro, saí perambulando e atravessando a rua em direção à um barzinho, um boteco. Chegou com um bombeirinho... groselha com conhaque. Começamos à beber, mas como eu era um cabaço, comecei à ficar tonto. Já me soltei, e estava tão solto que meus braços começaram à voar em direção dos ombros e cinturas das garotas. Tatiana, uma garota ruiva, troncuda e bunduda era apaixonada por mim (e foi apaixonada até a última vez que nos vimos, em 2003). Ela começava a me abraçar e eu a abraçava também. Puta merda, haviam alguns momentos de rápida sobriedade quando eu me afastava dela. Mas voltava a tontura, a alegria e lá estava eu, abraçado com as garotas. Olhei para o relógio e já era meia-noite. Minha "cabacice" me mandou despedir todos ali e voltar para casa... seriam bons e longos três quilômetros de tontura e baboseiras saindo da boca. O Miguel, meu melhor amigo na época se propôs à ir comigo, afinal, sua casa ficava antes da minha, um quarteirão antes. Começamos à andar, falar de mulheres, mulheres e mulheres.

- Minha é prima é muito gostosa... é mais nova, mas puta que pariu, tem uns peitinhos - disse Miguel
- Que bom, e onde ela mora? - perguntei
- No Paraná.
- Puta que la merda, Miguel, a mina mora no Paraná? Fala de algo mais próximo!
- Ah, sabe a fulana (esqueci o nome dela, era da nossa classe)?
- Sei.
- Comi ela, cara. Ela ficou de calcinha, de quatro, e eu só pus a calcinha de lado e mandei bala.
- Caramba, e ela?
- Gostou, mas foi rápido, sei lá...
- Sei.

A conversa continuava:

- Mano, um dia estava comendo uma ficante. - começou Miguel
- E aí? - perguntei
- Estava no "bem bom", metendo com força, ela gritando alucinada e de repente ela grita "vai meu touro, mete com força". - Miguel parecia um italiano ao me contar essa história, gesticulava, falava alto
- Hahaha e daí?
- Mano, a mina me chamou de touro e quis que ficasse tudo tranquilo? O caralho! Tirei meu pau da buceta dela e mandei: "Como assim, touro? Você tá me chifrando, caralho?!"
- Hahahaha, mano, você não fez isso.
- Fiz, porra. Nem fodendo que a mina vai me chamar de touro!
- Vai se foder, a mina tá lá, quase gozando... às vezes ela fala essas coisas, tipo, meu macho, meu tigrão...
- Sei lá, cara, a verdade é que mulher nenhuma me chama de touro!
- Que se foda.

A conversa continuou nessa linha. O Miguel sempre contando suas histórias e eu, cabaço, sem nada de interessante pra contar, afinal, minha primeira namorada era a mesma daquela hora, nunca havia comido outra boceta. Eu só ouvia, ria, concordava e discordava.

Estávamos chegando na metade do caminho, já era bem tarde, e estávamos em frente à Igreja Margarida Maria, ao lado do cemitério da Vila Mariana. No instante que caminhávamos, perto de um estacionamento, um cara sombrio nos seus 21 anos chegou perto de nós:

- Aê, alguém tem fogo aê? - perguntou o elemento
- Fogo não, mas se quiser álcool, eu tô cuspindo álcool - respondi "cabaçamente" achando que tinha bebido pra caralho
- Vocês estão indo pra onde? - perguntou o elemento
- Pra casa - repsondeu Miguel
- Onde vocês moram?
- Aqui na região - me adiantei pra responder
- Só... - balbuciou o elemento

Puta merda, o cara tava louco de maconha, devia ter fumado muito, os olhos vermelhos, magro, de boné e voz lenta, torturante. Fomos caminhando por mais alguns metros e o Miguel me olhava de lado, me passando a mensagem "esse cara é nóia, é suspeito". Eu captava a mensagem, mas o filho da puta conversava, conversava, falava que nos conhecia, que estudava num colégio de supletivo noturno lá na Ana Rosa. Quando um ônibus passava, ele falava "olha quanta buceta nesse busão". Ele falava as coisas, nós respondíamos e ele falava: "do que vocês estão falando". Puta que pariu, o cara tava loucão. Chegamos na Coronel Diogo, uma rua que cruza a Lins de Vasconcelos. O Miguel encontrou um amigo na padaria de esquina e conseguiu uma carona pra casa.

- Felipe, vou ficando por aqui, ele vai me dar uma carona - disse Miguel
- Beleza, até mais então, mano - repondi me despedindo

Mas o filho da puta do elemento sombrio e noiado não me largava. Havia mais um quarteirão pra andar e o cara continuou me perseguindo.

- Aê mano, vamo colar aqui mesmo, ficar zoando um pouco... - propôs o elemento
- Não cara, tenho que trabalhar amanhã... acordar 5 da manhã é chato. A gente se fala depois, você não cola o tempo todo lá na escola? - tentei despedí-lo bem no momento em que três caras, amigos dele chegaram.
- Então, esse é fulano, esse é beltrano e esse é ciclano - o elemento apresentou mais três elementos tão sombrios quanto ele
- Opa, e aí? Beleza? - cumprimentei-os


Os caras me cumprimentaram e ficaram parados enquanto eu andava, tentando atravessar a avenida. Tentei pela última vez me livrar do cara:

- A gente se vê amanhã à noite, la na escola.
- Que escola, mano? - me perguntou, denunciando sua confusão mental
- A minha, mano, falei dela pra você o tempo todo, como você me pergunta "qual escola"? - me irritei
- Mano, você é estranho - o louco me disse

E quando parei pra raciocinar sobre a última frase dele, ele me virou uma "cadernada" na cara. Eu que estava meio tonto pelas bebidas, fiquei mais ainda. Lembro de ter erguido minha vista e ver os outros três amigos dele correndo em minha direção. Puta que la merda, eu tava fodido. Era melhor correr pra casa. Minhas pernas bambas me assustavam, corri como um louco, peguei outro caminho mais longo, para se caso eles me perseguissem mesmo, não saberia o caminho do meu prédio. Lembro de ter olhado pra trás e ter visto os quatro parados e o elemento principal, loucão, gritando alguma coisa. Cheguei com respiração ofegante no meu prédio, parei nas escadas e lembro ter feito alguma oração. No desespero, meu filho, não existem ateus. Me recompus, entrei em casa e todos perguntavam preocupados, onde eu estava. A minha namorada havia ligado várias vezes. Liguei pra ela, dei uma desculpa idiota, troquei de roupa e fui dormir às 2:30hs, pra acordar às 5:00hs.

Que cabaço.